sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

CABA SANTIAGO

CONHECI E CONVIVÍ COM CABA SANTIAGO - GRANDE HOMEM
(Apontamento retirado do site da COMPANHIA DE CAÇADORES 13) 13/6/1974 - Bissorã- Cabá Santiago ao meio, à sua esquerda o comandante do PAIGC da zona de Maqué, Joaquim Tó, que veio até Bissorã com um grande grupo de guerrilheiros.
Vai existir uma reconciliação pacifica, sem retaliações, é o que é proclamado. (2)

Cabá Santiago era um individuo inteligente e com alguma cultura, tinha sido professor até aderir ao PAIGC, ai passou a ser professor e guerrilheiro, após muitos anos de luta, sem ver um fim à vista para esta, e percebendo que o PAIGC mentia nas suas mensagens de propaganda, acreditou que o melhor caminho a seguir era o apontado por Portugal, e aproveitou as campanhas de aliciação para os guerrilheiros abandonarem a luta, para se entregar.

Quando se entregou, Cabá Santiago passou a colaborar com as nossas tropas, integrando as milícias de Bissorã, como chefe de um grupo de milícias, e regressou à sua zona para combater o PAIGC.

Conhecendo alguns guerrilheiros, que viviam com a população, utilizava o seu estatuto de guerrilheiro, e mandava-os ir buscar as suas armas (cada um tinha escondido a sua no mato), e quando estes chegavam armados eliminava-os.

A guerrilha tinha o seu sistema de informação, nomeadamente através dos elementos da população de Bissorã, e Cabá arriscou muito naqueles dias, pois bastava ir a um local onde já se soubesse o que se passava, para ele ser um homem morto, e em breve a sua "cabeça ficou a prémio".

Cabá mesmo depois da sua "cabeça estar a prémio" pelo PAIGC, continuava a ser uma das armas mais destruidora existente em Bissorã, e não deixava de sair por vezes sozinho, e atacar os acampamentos inimigos, eliminando guerrilheiros, e capturando várias armas.

Escusado será dizer que para o PAIGC Cabá Santiago, era um homem a abater a todo o custo, e por isso ele era sempre o ultimo da coluna de milícias que comandava, pois tinha medo de ser morto pelas costas pelos seus próprios homens.

Pergunto aos leitores: o que acham que iria acontecer ao Cabá Santiago, quando fosse entregue o poder em Bissorã ao PAIGC, se mesmo durante o período de cessar fogo, o PAIGC continuavam a capturar soldados africanos, que nunca mais apareciam?

Cabá foi um dos que manifestou desconfiança, sobre o que iria acontecer.

Na verdade existia alguma desconfiança entre as forças africanas, e muitos aguardavam a decisão dos comandos africanos de entregarem as armas, para entregarem as suas, pois os comandos eram quem arriscava mais, dado o clima de animosidade que existia contra eles da parte do PAIGC.

O PAIGC também sentia desconfiança quanto ao rumo das negociações, e temia que o seu estatuto de estado independente, não fosse reconhecido por Portugal.

Aristites Pereira o secretário geral do PAIGC, refere no seu livro " Uma luta, um partido, 2 países", essa situação de desconfiança:

"Na realidade, o PAIGC tinha razões de sobra para desconfiar das intenções do Governo português, na medida em que acrescia ao ambiente de suspeição reinante o facto de os comandos africanos se recusarem a desarmar-se, apresentando uma postura reivindicativa em relação ao Governo português pelos serviços prestados ao seu Exército e uma clara hostilidade em relação ao PAIGC. Em abono da verdade, o PAIGC chegou a estar preocupado com a situação, razão pela qual teve iniciativas unilaterais, que resultaram em contactos com os comandos africanos, chegando esse contacto a efectuar-se a 22 de Julho de 1974, em Cacine, com a presença dos capitães Saiegh e Sisseco, o alferes Barri e um sargento."

Como era previsível, Cabá Santiago foi o primeiro a ser morto. De acordo com o que me foi relatado por vários familiares de Cabá Santiago, a sua morte ocorreu em Outubro de 1974 a mando do comandante militar do PAIGC da zona.

ORFÃOS DE PÁTRIA - GUINÉ - RTP2006
http://www.macua.org/orfaosdepatria/orfaosguine2006.html

Sem comentários:

INTRODUÇÃO:

E não é, que agora com os meus 59 anos e passados que já são 36 anos (2008) após o regresso da Guiné/Bissau, me deu na cabeça para procurar, matéria, fotos, contactos de ex-camaradas e temáticas relacionadas com a Guiné e mais em particular as zonas por onde andei... Bissau, Bissalanca, Cumeré, Bissorã e Bissum, aqui em permanência, pois foi para esta zona que a minha companhia foi destacada.
Será sobre estes locais que mais à frente tentarei ilustrar este Blog, que irei partilhar.
  • Pois é, parti para a Guiné/Bissau em Setembro de 1970 no paquete UÍGE, fazendo parte da Companhia de Caçadores 2781, que estava integrada no Batalhão de Caçadores 2927.
  • Vou tentar recolher dados e apoios logísticos de ex-combatentes, que entretanto vou tentar localizar, afim de documentar este espaço, que com garra estou a criar e tentar incluir aqui depoimentos, fotos e todo material com interesse para esta finalidade,
  • Pretendo ser o mais real possível para fazer deste Blog um local onde se possam recordar bons e maus momentos, trocar ideias e tudo o mais que a seu tempo se verá.......
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PÓVOA DE VARZIM JANEIRO DE 2008