segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O jipe do capitão foi atingido mas ele saiu ileso.


Na madrugada de 24 de maio de 1973 deixámos o Regimento de Infantaria 16, de Évora, em direção a Lisboa. Disseram-nos que era para render a Companhia de Caçadores 3407, em Angola. No aeroporto de Figo Maduro é que nos informaram que afinal iríamos embarcar para a Guiné. A Polícia Militar teve de nos ‘convidar’ a embarcar e partimos com um estado de espírito fácil de calcular. Do aeroporto de Bissalanca fomos para o Campo Militar de Cumeré. A Companhia só tinha 123 militares, e ficámos a aguardar os 41 atiradores e dois enfermeiros em falta. Tudo correu sem problemas, tendo até ocorrido a visita do governador e comandante-chefe, general Spínola, a 5 de junho de 1973. Depois da instrução, fomos para o setor 4, que tinha cerca de 1350 quilómetros quadrados, responsáveis por Mansoa, que era um tampão no caminho para Bissau. Os quatro pelotões, a rodar de seis em seis meses – eu era furriel miliciano do primeiro –, estavam distribuídos por Infandre, Braia, Mancalam e segurança à estrada em construção de Jugudul-Bambadinca. Quando o meu pelotão foi para Braia, o alferes Brás, que era seu comandante, estava noutra missão, passando o alferes Lopes, o furriel Marques e eu próprio a responsáveis pelos 30 militares. O bunker de cimento, com seteiras rasgadas, foi a minha casa durante seis longos meses. Fizemos inúmeras escoltas, patrulhas de reconhecimento, segurança a colunas, emboscadas de noite e dia. Fomos flagelados pelo inimigo, mas sem consequências. O 'DIA MAIS LONGO' A 7 de fevereiro de 1974 tivemos o ‘dia mais longo’. Eu, o alferes Lopes, o condutor Mirandela e o transmissões Gaiato, no regresso de Mansoa, passámos ao anoitecer por um local onde o inimigo preparava uma emboscada. Viemos a saber que só não nos atacaram para não retirar a surpresa de uma emboscada de grande dimensão. Logo que chegámos deu-se uma forte flagelação. O ataque a Braia, com canhão sem recuo, morteiro 82, RPG e armas ligeiras, causou o incêndio de várias tabancas. Perante este cenário, veio uma coluna de auxílio de Mansoa, com várias viaturas. Ao passarem na zona da emboscada, foram acionados três fornilhos na berma da estrada. A primeira Panhard capotou e o jipe do nosso capitão, Amândio Fernandes, foi atingido por um RPG. Ficou totalmente destruído, mas ele teve a sorte de sair ileso. Terminado o ataque, retiraram-se em direção a Benifo. A 9 de abril, o destacamento foi novamente atacado, sem consequências de maior. E a revolução de 25 de Abril não trouxe alterações, pois a 9 de maio emboscaram uma coluna na estrada Jugudul-Bambadinca, tendo as nossas tropas sofrido quatro feridos graves e dois ligeiros. No dia do meu aniversário, 27 de junho, fomos transferidos para o aquartelamento de Ilondé, passando a constituir reserva do comandante-chefe. Escoltávamos colunas de reabastecimento a Farim. A 31 de julho passámos a fazer segurança ao Palácio do Governador (que era o brigadeiro Carlos Fabião), em Bissau. O regresso a Portugal, por via aérea, teve lugar a 1 de setembro. Na Companhia de Caçadores 4641 houve dois mortos (o primeiro-cabo José Martins e o soldado Rodrigo Joaquim Vaquinhas) e oito feridos graves. Tenho noção de que fiz parte dos últimos guerreiros do Império.                
De:http://www.cmjornal.xl.pt/domingo/detalhe/afinal_iriamos_embarcar_para_a_guine.html

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INTRODUÇÃO:

E não é, que agora com os meus 59 anos e passados que já são 36 anos (2008) após o regresso da Guiné/Bissau, me deu na cabeça para procurar, matéria, fotos, contactos de ex-camaradas e temáticas relacionadas com a Guiné e mais em particular as zonas por onde andei... Bissau, Bissalanca, Cumeré, Bissorã e Bissum, aqui em permanência, pois foi para esta zona que a minha companhia foi destacada.
Será sobre estes locais que mais à frente tentarei ilustrar este Blog, que irei partilhar.
  • Pois é, parti para a Guiné/Bissau em Setembro de 1970 no paquete UÍGE, fazendo parte da Companhia de Caçadores 2781, que estava integrada no Batalhão de Caçadores 2927.
  • Vou tentar recolher dados e apoios logísticos de ex-combatentes, que entretanto vou tentar localizar, afim de documentar este espaço, que com garra estou a criar e tentar incluir aqui depoimentos, fotos e todo material com interesse para esta finalidade,
  • Pretendo ser o mais real possível para fazer deste Blog um local onde se possam recordar bons e maus momentos, trocar ideias e tudo o mais que a seu tempo se verá.......
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PÓVOA DE VARZIM JANEIRO DE 2008